E todo o mundo gosta!
Mas é todo o mundo mesmo: nós e as crianças, também...
Por vezes nos vemos às voltas sobre como diminuir as "birras" (detesto essa palavra, gente) fazer os filhotes nos obedecerem, diminuir os shows em público... nos respeitarem. Mas quantas vezes nos perguntamos sobre o quanto lhes respeitamos?
O medo é facilmente confundido com o respeito - o filho deixar de apresentar comportamentos que eu julgamos indesejáveis por medo, seja o medo do que podemos fazer contra ele ou o medo de nos magoar ou nos decepcionar, podem levar à falsa ideia de que estamos fazendo um bom trabalho, mas o resultado pode ser muito negativo para a formação da sua personalidade.
Fica muito difícil estabelecer uma educação respeitosa, baseada no amor, se continuamos a dar "murro em ponta de faca", insistindo na ideia que somos autoridades constituídas e que as crianças, por menores que sejam, precisam entender que o certo é fazer tudo o que mandamos, sem questionamentos. Conseguir isso, sem ser pela via do medo, me parece impossível.
Se acreditamos que a melhor maneira de educar é pelo exemplo, não há como exigir respeito sem que estejamos oferecendo respeito primeiro. Parece bem lógico, não? Mostramos como é, na prática, e os filhos reproduzem, como acontece com o falar, o andar, o comer à mesa, o dar carinho... mas levar o outro em consideração não é tão fácil quanto usar talheres.
Para respeitar o espaço de "pessoa" dos nossos pequenos, acolhendo suas emoções e aceitando os efeitos dos fatos sobre eles, precisamos fazer um exercício de compreensão de dois fatores: eles ainda não compreendem o mundo como nós e ainda não aprenderam a lidar com seus próprios sentimentos.
Eles ainda não vivem no mundo dos adultos, por isso a importância das coisas é diferente para eles. Isso significa que aquele carrinho sem roda não é "só um carrinho", poder brincar mais no parquinho não é "só se sujar inteiro", colocar aquela boneca para dormir não é "só largar um brinquedo". Se um amigo nosso bateu o carro, nós acolhemos a sua tristeza, ainda que a gente ache que ele precisava mesmo comprar um carro novo, não é? Se acontece um imprevisto e precisamos interromper aquela tão sonhada viagem de final ano, esperamos que as pessoas entendam o tamanho de nossa frustração, não é?
Desenvolver empatia em relação ao que nossas crianças vivenciam passa por compreender a diversidade de significados que um acontecimento pode ter, dependendo de quem o vivencia. Uma boa ilustração é que não é difícil encontrar em nossas memórias algo que nos era muito importante numa época do passado e que hoje nos parece uma grande bobeira.
Pensar nos brinquedos como os pertences dos nossos filhos, como seus pequenos tesouros, e nos colocar no lugar deles, traçando paralelos com aquilo que temos e valorizamos ajuda a criar uma perspectiva mais empática de valorização dos sentimentos deles diante de uma perna de boneca que se solta do corpo, por exemplo. Todos temos coisas que julgamos importantes e que não significam nada para as outras pessoas e sabemos bem o quanto é ruim ter nosso sentimento sobre elas banalizado.
Outro fator importante é a dificuldade de identificação e expressão dos sentimentos. As crianças ainda não têm intimidade com seus sentimentos, não os identificam tão bem e não conseguem expressar o turbilhão que lhes enche o peito numa situação de frustração. Se nós, adultos, temos tanta dificuldade, tantas vezes, como exigir que uma criança racionalize a sua raiva diante de blocos que insistem em não ficar empilhados como ela idealizou - muitas vezes contrariando as Leis da Física, que ela nem compreende ainda? Mas esse papo sobre como lidar com os sentimentos propriamente ditos é bem longo e precisa de um papo inteirinho só pra ele. Até lá.
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